terça-feira, 30 de outubro de 2007

Esse aumento eu não aguento!

Reitoria da UCS OCUPADA!

Ontem a noite após o ato do DCE os estudantes ocuparam a reitoria da universidade! Segue abaixo os 12 pontos de nossa reivindicação:

1. Que o Conselho Diretor da Universidade não vote o aumento de mensalidades na reunião do 30/10 e que uma nova reunião do CONSUNI, após a realização do Orçamento Universitário do DCE, possa aprofundar o debate sobre as mensalidades;

2 - Manutenção da política de descontos de 20% para as licenciaturas, conquistado pelo movimento estudantil em 2006;

3- Elaboração de um plano de Assistência Estudantil com orçamento específico, com um espaço na UCS que se preocupe e implemente a política de assistência, aproximando os estudantes, Das e DCEs;
4 - Congresso estatuinte, com delegação paritária e deliberativo que trate sobre a reestruturação acadêmica e estatuto da UCS e FUCS;
5 - Criação de uma mesa permanente de debate que contemple a participação de todas as categorias da comunidade acadêmica e que sirva como espaço para discutirmos diferentes temas da UCS e FUCS;
6 - Comprometimento de realização das obras elencadas no Orçamento Universitário 2007;
7 - Aumento nas bolsas de trabalho da UCS e das bolsas de graduação;
8 - Posicionamento do Conselho diretor quanto a ampliação e democratização do Conselho, principalmente no que diz a respeito à vaga do DCE, à escolha do reitor e à autonomia universitária;
9 - Criação de um fórum permanente de negociação dos inadimplentes;
10 - Regularização do conselho gestor do Hospital Geral, garantido a participação de estudantes e professores. Reformulação da gestão acadêmica no Hospital Geral. Garantia da manutenção do hospital continuar 100 % SUS ;
11 - Cetel como unidade de ensino, passando para a gestão da UCS, garantindo uma maior participação da comunidade acadêmica na programação da Rádio e UCS TV;


sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Golpe nas mensalidades e o Futuro do HG!

A UCS VAI PARAR!

No dia 19 de Outubro o CONSUNI aprovou sua proposta de reajuste das mensalidades para 2008: 6,3% tratorados pela reitoria em uma reunião convocada apenas dois dias antes para discutir "encargos estudantis". Como coisa ruim nunca vem só, foi apresentada, junto ao percentual abusivo, a proposta de corte dos descontos de 20% para as licenciaturas. Para estes cursos o reajuste não será apenas os pesados 6,3 mas o absurdo de 26,3%! Vale citar que as licenciaturas são cursos de alta relevancia social e comumente os menos elitizados da universidade.

Se vc está indignado com essa situação participe do ato de paralização da UCS dia 29/10 às 19h no centro civico!!!! vamos exigir democracia e mais respeito desta administração com os estudantes!


E o futuro do HG?

O futuro do HG também está na pauta da mobilização de segunda! Há dois anos a Universidade vem empurrando com a barriga o problema do Geral, arrastando uma situação financeira crítica e a indefinição acerca do modelo de gestão. Dia 30 de Outubro vence o prazo FINAL para renovação (ou não!) do convêncio firmado entre a FUCS com o Governo do Estado para manutenção do HG como hospital de ensino dos estudantes da saúde da nossa Universidade. O DA de Medicina, junto aos demais DAs da saúde e ao Diretório Central de Estudantes, não tirou o olho da questão do HG. No dia 05/10 uma nova comissão foi convocada para acertar os detalhes do novo convênio a ser firmado, mas a reunião não aconteceu pela ausência da representação do governo do estado! Desde então, silencio da UCS, silencio do estado, silencio da prefeitura. O que vai acontecer com nosso Hospital??? Os estudantes e professores continuarão a fazer parte do Conselho Gestor do HG??? A gestão de ensino permanecerá um feudo da fundação ou será democratizada?!

Cobre a universidade e os gestores do HG!!! Participe do ATO DIA 29
!

Enquanto isso em Brasília... menos dinheiro para o SUS...

Saiba como a saúde pode perder 3,15 BI por ano

A saúde pública está prestes a levar mais um duro golpe em seu financiamento. A regulamentação da Emenda Constiucional 29 (EC 29), medida há anos esperada pela militancia da saúde para ampliar os repasses do SUS e aliviar a crise do setor, não veio da maneira esperada. Aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) no dia 02 de Outubro, o texto substitutivo do PL 121/2007 de autoria do Sen. Tião Viana, propõe a regulamentação da EC 29 prevendo repasses cada vez mais magros para a já precária saúde pública brasileira. Saiba mais sobre o assunto e mande seu protesto aos deputados(as) gaúchos.

ACESSE: http://www.dceucs.com.br

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

UFRGS deixa de usar animais para treinar estudantes de medicina

Vote na Enquete ao lado:
O que você acha do uso dos porquinhos na técnica cirúrgica
da UCS?



SIMONE IGLESIAS
Agência Folha, em Porto Alegre

10/10/2007

Anestesiar animais de rua, na maioria cães, para ensinar procedimentos médicos como suturas, incisões e punções deixou de fazer parte da rotina dos professores e alunos de medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

A direção do curso montou um laboratório para as aulas práticas de técnica operatória com simuladores plásticos e sangue artificial.
"Queríamos acabar com um problema que sempre existiu nas faculdades de medicina. Algumas criam os animais para usá-los nas aulas, ainda vivos. Mas, e depois, o que se faz com eles? Uma eutanásia provocada? Alguém vai passar a cuidar deles?", questiona o diretor da faculdade de medicina, Mauro Czepienewski, 53.

Czepienewski diz que os estudantes e professores se deparavam com um problema moral, de ter que abrir um cão vivo e, em seguida, descartá-lo.
"Nos víamos diante da questão: acabar com a vida para preservar a vida. Por isso, passamos a nos dedicar a uma alternativa", afirma.

O projeto custou R$ 300 mil, fora a manutenção dos equipamentos e reposição de material cujo preço varia de R$ 200 (pele artificial) a R$ 8.200 (um torso equipado com artérias e veias).
O professor adjunto de urologia e um dos coordenadores do Laboratório de Técnica Operatória e Habilidades Cirúrgicas, Milton Berger, 51, afirma que os alunos se sentem muito mais seguros para aprender.

"O novo método tranqüiliza. Muitos tinham pena de treinar em cães. Os simuladores são mais próximos ao corpo humano, além de acabar com uma série de implicações morais."
No laboratório, os alunos utilizam braços e pedaços de pele falsos para aprender a suturar e fazer incisões, além de um torso, onde fazem punções e colhem sangue (artificial).
Também são realizadas práticas mais complexas, como suturas dos intestinos grosso e delgado em um material que simula os órgãos a ponto de a mucosa e a textura serem semelhantes às do corpo.

UNE lança no Rio Campanha pela descriminalização do Aborto


Fonte site da UNE

No próximo dia 27 a entidade dará início à campanha nacional em defesa da legalização do aborto; debate de lançamento será às 17h, no campus Praia Vermelha da UFRJ, e contará com a presença de representantes da Secretaria Especial de Política das Mulheres

O tema aborto ganhou destaque dentro movimento estudantil quando a UNE criou, em 2003, a sua diretoria de Mulheres. Após mais de três anos e muito acúmulo de debates sobre a qualidade da atenção à saúde da mulher e os seus direitos sexuais e reprodutivos, as estudantes acreditam que o momento é de enfrentar a hipocrisia. Com esta proposta, a entidade dará início na próxima quinta-feira, 27 de setembro, no Rio de Janeiro, a uma campanha nacional com o tema "Aborto seguro e legal! Uma responsabilidade do Estado com a mulher".

O ato de lançamento será às 17h, no Auditório Pedro Calmon, no campus Praia Vermelha da UFRJ. Participarão da abertura o reitor da universidade, Aloísio Teixeira; e representantes da Secretaria Especial de Política para as Mulheres; União Brasileira de Mulheres e Marcha Mundial das Mulheres. A entrada é aberta ao público.

O objetivo daqui para frente é que a UNE provoque e instigue a reflexão da juventude, levando a questão para dentro das salas de aula das universidades. A campanha contará com materiais próprios, como cartilhas explicativas, adesivos e cartazes.

Momento decisivo"A idéia é movimentar as instituições de ensino. Vamos fazer palestras, oficinas, mostra de vídeos. Hoje, vivenciamos um momento decisivo para se avançar na luta pelo direito da mulher de decidir sobre seu próprio corpo", aponta a diretora de Mulheres da UNE, Ana Cristina Pimentel. "E os diversos movimentos sociais têm a tarefa de mostrar as suas posições na perspectiva de superar as condições desiguais em que essa discussão é apresentada por estes setores conservadores da sociedade", convoca.

Na opinião da presidente da UNE, Lúcia Stumpf, este momento, no entanto, pode se perder no tempo se a sociedade não passar a ter mais informação e compreender melhor a questão. "A nossa proposta é conscientizar a população. Acreditamos que muitas pessoas são guiadas por posições religiosas que não levam em conta os dados atuais sobre o aborto, que apontam a morte de milhares de mulheres que decidem interromper a gravidez indesejada e conseqüências a longo prazo, incluindo a infertilidade. Mas num estado laico, a mulher deve, sim, ter o direito garantido em lei de decidir sobre a gravidez. A lei não torna obrigatória nenhuma decisão, apenas estabelece direitos", diz.


Dados

Segundo levantamento do Ministério da Saúde, a mortalidade materna em decorrência de complicações por abortamento sem condições mínimas de segurança fizeram cerca de mil vítimas, de 1996 a 2006. A contradição: de 1998 a 2006 foram realizados 14.155 abortos por razões médicas/legais, ocorrendo apenas 3 óbitos neste período.


No Brasil, 230 mil mulheres procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) todos os anos para cuidar de hemorragias, perfurações de útero e outras complicações geradas por cirurgias realizadas em clínicas clandestinas. A prática é a quarta causa de óbito materno no país. Grande parte delas, jovens. Vale lembrar que muitos casos clandestinos não são sequer registrados.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 13% das mortes relacionadas à gravidez têm sido atribuídas a complicações de abortamento inseguro, provavelmente 67.000 mortes anuais. Em todo mundo, 46 milhões de mulheres interrompem a gestação por ano. Deste total, 20 milhões não tem acesso as mínimas condições de higiene para o procedimento.
"Quando uma mulher recorre ao aborto em condições inseguras, colocando em risco sua saúde e podendo ser presa é porque não quer ou não tem condições de levar a gravidez adiante. Ser mãe deve ser parte de um projeto de vida das mulheres, não uma obrigação. Nenhuma mulher deveria ser obrigada a levar adiante uma gravidez indesejada", pondera Ana Cristina.


Luta latino-americana

Em 28 de setembro será celebrado em todo o continente o Dia Latino-americano e Caribenho pela Legalização do Aborto. A UNE, em conjunto com os movimentos de mulheres, vai organizar manifestações e ocupar as ruas do país para defender o direito das mulheres decidirem sobre seus próprios corpos.


"Precisamos colocar esse tema no dia-a-dia das pessoas. A UNE vem se somar ao movimento de mulheres na luta para que o aborto deixe de ser crime e possa ser realizado nos hospitais públicos, com segurança e respeito. Também lutamos para que todas as mulheres tenham acesso a métodos para evitar a gravidez. O aborto não deve ser um método contraceptivo, mas, sim, um recurso de livre escolha no caso de uma gravidez indesejada", explica Ana.

(32) 8803.1575 (Ana Cristina - diretora de mulheres da UNE)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Doutor Che Guevara tentou aliar revolução e avanços na área de saúde


Moacyr Scliar

Folha de São Paulo (07/10/2007)

Este 9 de outubro assinala os 40 anos da morte de uma extraordinária figura, um líder revolucionário que marcou o nosso tempo, Ernesto Rafael Guevara de la Serna, Che Guevara (Che sendo o equivalente a "você" dos argentinos, uruguaios e gaúchos). Neste texto, vamos considerar um lado pouco mencionado de Guevara, o lado médico.

Nascido (1928) em Rosario, Argentina, Ernesto descendia de uma família com origens na Espanha e na Irlanda, dois países nos quais a paixão tem cidadania. Seus pais eram pessoas cultas e engajadas politicamente: ambos opunham-se ao regime peronista que por longo tempo ficou no poder.

Aos dois anos manifestou-se no pequeno Ernesto a doença que o acompanharia por toda a vida e que partilhou com figuras famosas, como Pedro, o Grande, Charles Dickens e Marcel Proust: a asma. Uma enfermidade cuja causa ainda não é inteiramente clara; provavelmente resultou de uma combinação da hereditariedade, de alérgenos ambientais e de fatores psicológicos.
Em busca de melhores condições climáticas para o garoto, a família mudou de residência, mas Ernesto nunca se deixou abater pela doença. Tratou de praticar esporte e era um agressivo jogador de rugby, conhecido pelo apelido de "Fuser", combinação de "Furibundo" e "Serna". Também era chamado de "Chancho" (porco) porque raramente se banhava, coisa da qual se orgulhava.

Lia muito: os poemas de Pablo Neruda e os livros de aventura de Júlio Verne, Jack London e Bertrand Russell. Além disso, gostava de fotografar.
Em 1948 Guevara entrou na Universidade de Buenos Aires para estudar medicina. Por que escolheu esta profissão? Três motivos podem ser invocados: a morte da avó, Ana Lynch, a quem o jovem Ernesto era muito ligado (aliás, foi nessa época que ele desistiu da engenharia pela medicina, o que reforça o argumento); a doença da mãe, Celia de la Serna Guevara, por quem Ernesto nutria profunda afeição, que teve um câncer de mama extirpado; e a asma.
Estudante de medicina, Ernesto rapidamente desiludiu-se com o curso; não era um estudante dedicado e, numa carta à namorada Chichina Ferreyra, rotulou a profissão médica como "ridícula". Mas defendia os aspectos humanísticos e sociais da profissão, defendendo a socialização da medicina e sustentando que os leprosos deveriam ser libebrtos de seu estigma. Mais que isso: formado, trabalhou no laboratório de alergologia do dr. Salvador Pisani, que, impressionado com sua dedicação, quis contratá-lo como pesquisador.

Viagem de moto

Foi como estudante de medicina que, em 1952, Guevara empreendeu a famosa viagem pela América Latina junto com seu amigo, o bioquímico Alberto Granado. Tripulando a motocicleta La Poderosa 2, os dois partiram para a jornada que depois Guevara narraria nos 'Diários da Motocicleta', ponto de partida para o filme de Walter Salles.
Essa viagem foi, para o jovem estudante, um verdadeiro rito de passagem; já influenciado pela literatura marxista e impressionado pela pobreza e pela marginalização que via, Guevara convenceu-se de que só a revolução armada mudaria o destino da América Latina. Terminando o curso médico, voltou a viajar e chegou à Guatemala à época em que o presidente eleito Jacobo Arbenz tinha empreendido uma radical reforma agrária, contrariando profundamente os interesses da United Fruit e de outras multinacionais que até então controlavam as chamadas "repúblicas bananeiras".

Para Guevara a Guatemala representava uma espécie de estágio para que ele se tornasse um verdadeiro revolucionário. Tentou conseguir um emprego público como médico, sem êxito; fez então contato com um grupo de cubanos ligados a Fidel Castro, que ele já tinha encontrado na Costa Rica; e ali também passou a ser conhecido como Che, por causa do uso constante que fazia dessa expressão. Arbenz foi derrubado por um golpe apoiado pela CIA, e Guevara conseguiu escapar para o México, agora convencido de que só uma revolução socialista poderia enfrentar o imperialismo americano.
No México, Guevara encontrou Fidel e Raul Castro e juntou-se ao Movimento 26 de Julho, cujo propósito era derrubar o governo de Fulgencio Batista. Ele deveria ser o médico do grupo, mas também recebeu treinamento militar. Em 1956, a bordo do iate Granma, o grupo dirigiu-se para Cuba. Tão logo desembarcaram na ilha, foram atacados pelas tropas de Batista, que mataram cerca da metade dos revolucionários.

Durante o confronto, Guevara largou sua mochila com material médico para pegar uma caixa de munições que um companheiro deixara cair; algo que ele viu como uma transição da sua situação de médico para a de combatente. Os poucos revolucionários que sobreviveram refugiaram-se nas montanhas de Sierra Maestra, dando início à guerrilha que por fim conquistaria o poder em Cuba.

A essa altura, Guevara já era um duro e implacável comandante militar; não hesitava em mandar executar informantes ou desertores. A guerrilha tomou o poder, Guevara assumiu o comando do quartel de La Cabaña e aí de novo mandou executar dezenas de colaboradores de Batista. Mais tarde tornou-se presidente do Banco Nacional de Cuba. Como parte de suas funções ele tinha de assinar as cédulas, o que o fazia com o seu apelido, "Che". Mas a sua inquietude revolucionária persistia. Desde 1959 ajudou a organizar expedições revolucionárias em vários países. Tratava-se de pequenos grupos de guerrilheiros que serviriam como foco de insurreição nacional: a doutrina do "foquismo".

E a revolução não se restringiria à política ou à economia. Tratava-se de criar um novo homem ("hombre nuevo"), capaz de construir o Estado socialista.
Àquela altura já estava se tornando uma figura lendária; no final de 1964 viajou para Nova York, onde foi recebido como um herói revolucionário, e não só pelos grupos de esquerda; os Rockefeller convidaram-no para jantar.

Veio então a crise dos mísseis, instalados em Cuba pelos soviéticos (e que, em caso de conflito, dizia Guevara, seriam usados contra os EUA). Tensa situação, que quase levou o mundo a uma terceira grande guerra. Por fim o premiê Khruschov, da URSS, retirou os mísseis sem consultar Castro, o que deixou Guevara muito cético acerca da linha ideológica e estratégica dos soviéticos.

Por razões que até hoje não são bem claras, ele desapareceu, segundo Castro para continuar a luta revolucionária em lugar que o premiê cubano se recusou a revelar. O primeiro lugar em que Guevara promoveu 'focos' revolucionários foi na África, mais precisamente no Congo. Não deu certo. Meses mais tarde, a asma atormentando-o sem cessar, deixou a África, resumindo sua aventura numa frase: 'É a história de um fracasso'.

Seguiu então para a Bolívia, onde, de novo, sua trajetória foi um desastre; não recebeu ajuda dos revolucionários locais, os quais não tratava de maneira muito hábil, e tinha poucos recursos para suas operações. Ocorreu então um curioso incidente: ele encontrou um grupo de soldados bolivianos feridos e ofereceu-lhes cuidados médicos, o que foi recusado. A asma agravava-se; várias das ofensivas que desencadeou tinham como objetivo obter remédios. Por fim, a 8 de outubro de 1967, foi capturado e, no dia seguinte, executado por ordem do presidente da Bolívia, o general René Barrientos. Após sua morte transformou-se numa figura icônica. A foto que Alberto Korda dele tirou pode ser encontrada em qualquer lugar do mundo e vezes sem conta foi reproduzida em cartazes, camisetas, bonés.

Numa palestra realizada em 1960 e dirigida a soldados cubanos, Guevara propõe-se a responder a uma dupla pergunta: como se pratica uma medicina revolucionária? Como se compatibiliza objetivos profissionais com objetivos revolucionários?
Em primeiro lugar, diz ele, é preciso revisar a trajetória pessoal (um processo que o comunismo conhecia como autocrítica), por onde o médico revolucionário chegará à obrigatória conclusão de que o passado tem de ser descartado.

Da mesma maneira deverá mudar a medicina. O governo revolucionário tem de prover serviços de saúde pública para o maior número possível de pessoas, instituir um programa de medicina preventiva e orientar o público para práticas higiênicas. Isto não significa, apressa-se a acrescentar, sufocar a iniciativa individual; ao contrário: talentos pessoais devem ser estimulados, mas orientados para a medicina social.

Função pedagógica

O médico deve inclusive exercer funções pedagógicas, ensinando ao povo como diversificar seus alimentos por meio da agricultura; e deve ter funções políticas, o que, para Guevara, significa ouvir a população, interagir com ela, aprender. Há um inimigo comum, o governo norte-americano, e contra ele os cubanos devem se unir, assim como devem se unir a outros povos, mesmo que haja alguma diferença em termos de organização dos países (ou seja: mesmo quem não é socialista pode fazer parte da aliança contra o inimigo). Se for preciso lutar, o médico cumprirá funções de soldado e de revolucionário, mas sem deixar a medicina, sem cometer, diz Guevara, o erro que cometemos em Sierra Maestra, em que o médico estava ansioso por combater, não cuidar de feridos.

Transformação

A medicina social, portanto, é um componente importante na transformação da sociedade. Como realizar esta transformação de forma sábia e equilibrada é o problema. Para o qual os livros de terapêutica não têm nenhuma resposta.
Da guerrilha não é difícil passar ao terrorismo, mesmo porque para muitos é apenas uma questão de nomenclatura. No Oriente Médio não são raros os médicos que optaram por esta forma de luta política. George Habash, líder da Frente Popular de Lbertação da Palestina, era médico, e também Ayman al Zawahiri, o número dois da Al Qaeda, e o líder do Hamas em Gaza, Mahmoud Zahar. Zahar, aliás, era médico do fundador do grupo, o xeque Ahmed Yassin, morto num ataque aéreo de Israel em 2004. Seu sucessor foi Abdel Aziz Rantisi, um pediatra, também morto pelos israelenses. O fundador do grupo Jihad Islâmica, Mohammed al-Hindi, formou-se em medicina no Cairo.

Médicos eram muitos dos guerrilheiros que lutaram contra os soviéticos no Afeganistão. Finalmente, pelo menos cinco dos oito suspeitos de abortadas tentativas terroristas em Londres e Glasgow eram médicos. Isso contraria a idéia de que terroristas são recrutados nas camadas mais pobres e mais incultas.

Na verdade, a formação superior, sobretudo em medicina, facilita a atividade terrorista. Durante anos Europa e EUA trataram de compensar a falta de profissionais por meio da 'importação de cérebros'; cerca de 37% dos médicos com prática no Reino Unido são estrangeiros. Isso facilitava o deslocamento dos médicos que haviam optado pelo terror.

MOACYR SCLIAR é médico e escritor, autor de "O Centauro no Jardim" (Cia. das Letras).